Embora profundamente
entristecedor seja o impacto causado pelas ondas gigantes no sudeste
asiático e ainda que nos sirva para lembrar Vinícius:
“ Quando me procure mais tarde, quem sabe a morte, angústia
de quem vive, ou a solidão, fim de quem ama...” mostrando
a principal certeza e angústia do ser vivo, não é
bem de ondas marítimas que comentaremos aqui.
Gostaria de lembrar da onda citada por Alvin Tofler e relembrar outras
ondas que já passaram pela economia brasileira, mudando consideravelmente
o panorama social e político em conseqüência dos
fatos econômicos.
Recordemo-nos das últimas décadas do século XIX,
quando os barões da agricultura (café, cacau e cana)
resolveram atrair mão de obra européia para substituir
os recém libertos escravos. Cabe aqui um parêntesis para
uma questão que espero elucidar no mestrado: por que não
contrataram os ex-escravos, evitando o surgimento de uma classe que
até hoje se ressente da falta de oportunidades?
Mas, voltando ao foco, os europeus aqui chegaram em situação
de quase penúria, posto que deixavam países arrasados
por décadas de guerras (napoleônicas e franco-prussianas,
unificações germânica e italiana) e devastados
por invernos rigorosos. Todavia, traziam consigo uma moral religiosa
que valorizava a riqueza conquistada com o trabalho honesto e traziam
o conhecimento, fatores que, quando bem combinados, resultaram naquilo
que viria a se tornar a base fundamental da indústria paulista:
Italianos e Alemães, apenas para citar alguns, em pouco tempo
deixaram as fazendas e se tornaram industriais.
Ou seja, a elite agrária não percebeu a nova onda, a
indústria, e se apegou ao poder que minguava – onde e
como estão hoje os descendentes dos barões?
Da mesma forma, nova onda já se movimenta há anos nos
países centrais: tecnologia e serviços para agregar
valor aos produtos industrializados, e nós aqui ainda discutimos
se e onde vamos fazer um distrito industrial!
A indústria hoje está na Ásia, enquanto que a
tecnologia e os serviços estão na Europa, EUA e Japão.
O Brasil precisa planejar para que suas exportações
não dependam demasiadamente de produtos cujo sucesso no exterior
submete-se à desgraça alheia (carne X vaca louca, suco
X nevascas) e implantar medidas que, através da pesquisa e
tecnologia, somem serviços e acrescentem valor aos produtos.
Da mesma forma, Limeira tem que avaliar suas competências e
tentar implantar ações que agreguem valor, que incrementem,
via serviços, a competitividade de setores econômicos
locais já fortes, como auto-peças, metalurgia, jóias,
mudas e outros. Será que não podemos nos tornar a capital
da moda em acessórios? Será que não conseguiremos
melhorar a competitividade das nossas mudas? O que podemos fazer para
que empresas que nos orgulham, que geram emprego e trazem tecnologia
continuem a ter sucesso a partir de bases limeirenses? Se ficarmos
tentando pegar a onda que já passou, teremos que nadar muito
e ainda correr o risco de morrer na praia.